O serviço de Psicologia criou mais um canal de comunicação com os familiares de pacientes do Hospital Santa Casa de Londrina. É o projeto Mural da Psicologia, uma importante ferramenta para minimizar a angústia e o sofrimento, muitas vezes inevitáveis num hospital.
O Mural é montado com temas relacionados à Psicologia e que trazem informações importantes para quem está vivenciando a hospitalização. Os textos são renovados mensalmente e também ajudam no dia a dia dos profissionais que atuam no hospital.
Segundo a psicóloga do Hospital, Jenima Prestes Antunes Vilches, esse trabalho contribui para a recuperação do paciente. Jenima Vilches explica que isso acontece à medida que os familiares identificam a situação que estão vivendo e compreendem os aspectos emocionais envolvidos no adoecer e na hospitalização.
A exposição de trabalhos e textos fica na sala de espera das UTIs e Centro Cirúrgico – um local por onde passam dezenas de pessoas diariamente.
Acesse o Mural da Psicologia:
» Hospitalização: o impacto emocional no paciente
Psicóloga Responsável: Jenima P. Antunes Vilches
Estagiários: Andréia Guidugli / Eduardo Hashimoto / Nicole Borguesi
O cotidiano
Cotidiano pode ser definido como o conjunto de acontecimentos vividos pelas pessoas em seu dia-a-dia, em diferentes momentos, lugares e pessoas envolvidas nessa dinâmica. O cotidiano dá forma, direção e rumo para as vivências diárias. Permite que a pessoa neste caminho mostre o seu jeito de ser, construindo assim sua história de vida e sua história na sociedade.
Através do cotidiano pode-se prever e ter o controle parcial dos acontecimentos do dia-a-dia: seja no horário de ir para o trabalho, seja na responsabilidade de buscar o filho no colégio, ou sabendo que chegando em casa após o trabalho o jantar estará pronto. São momentos e situações que dão a sensação de segurança diante de tantas incertezas que compõem nossas vidas.
Hospitalização
O processo de hospitalização pode causar nos pacientes e familiares inúmeras mudanças e rompimentos em suas relações e no seu cotidiano. Isso pode ser vivido de forma negativa, levando esta pessoa a ter sentimentos como o medo e a carência. Pode-se experimentar o sofrimento da hospitalização de várias formas:
» na solidão
» na dependência dos outros
» no encontro com as limitações
» nas incapacidades
» na expectativa em relação ao tratamento
» nas rotinas e normas rígidas diferentes das que se está acostumado
» na convivência com outros pacientes
» no estar num ambiente sem poder expor seu jeito de ser
» no distanciamento familiar |
A hospitalização, mesmo que necessária, é responsável pelo afastamento do paciente do seu cotidiano e de suas relações. Ao sofrer uma internação hospitalar os pacientes parecem encontrar-se no momento de suspensão, no “entre”: entre o antes e depois da internação, entre a espera para realizar um exame e obter seus resultados, entre o tempo para se recuperar e obter alta... Neste processo o paciente vive para o “quando sair do hospital”, “quando melhorar”, “quando estiver curado”, “depois que fizer a cirurgia”.
Não é possível se ver na situação de internação hospitalar realizando atividades que não sejam da rotina do hospital. Esse é o espaço do vazio, da impotência, da paralisia.
Tanto a hospitalização quanto a doença modificam a relação do paciente com o mundo e consigo mesmo, desencadeando uma série de sentimentos. As doenças e suas seqüelas podem trazer profundas modificações na vida das pessoas, experimentadas como grandes perdas.
Todo processo de adoecer ativa mecanismos de defesas psicológicas no paciente. Esses mecanismos são reações emocionais e de comportamento que podem surgir diante de situações que causem algum tipo de sofrimento psíquico ou físico.
Mecanismos psicológicos de defesa
» Passividade: diante da doença, o paciente muitas vezes se paralisa sem se envolver ou questionar o que se passa, escondendo seus reais sentimentos
» Regressão: quando o paciente adota um comportamento infantil, de dependência e de voltar-se para si
» Negação: é uma defesa contra a tomada de consciência da enfermidade, que consiste na recusa parcial ou total da percepção do fato de estar doente
» Raiva e Culpa: "Por que logo eu?", "Que foi que eu fiz para merecer isto?". Um dos alvos pode ser o profissional de saúde: o paciente questiona a validade do diagnóstico, a troca de profissionais. Esses sentimentos podem ser dirigidos também a outras pessoas de convívio próximo ou a si próprio
» Rejeição: o paciente já tomou conhecimento de sua doença, tem certeza de sua existência, mas evita falar ou realizar atividades que lembrem a enfermidade
» Minimização: o paciente tenta diminuir a gravidade do seu problema
» "Depressão": todo paciente, independentemente do diagnóstico e da gravidade do seu problema, apresenta uma reação "depressiva" conseqüente à perda de sua saúde, ao ataque à imagem corporal, à auto-estima e ao sentimento de identidade do indivíduo, não significando a doença Depressão
» Aceitação: permanente tentativa de buscar uma "convivência razoável" com a doença |
Importante saber:
» tanto os familiares quanto o paciente podem e devem se informar e tirar dúvidas com os profissionais que estão envolvidos com o tratamento. É fundamental estar informado sobre o diagnóstico, tratamento, procedimentos e o tempo previsto de hospitalização quando for possível. Essas informações ajudam na organização emocional de todos e nas questões práticas que fazem parte da vida de cada um
» é necessário que o paciente mantenha vínculos com sua vida fora do hospital. Receber notícias do cotidiano é importante na medida em que resgata e preserva a identidade do paciente
» proporcionar a visita de pessoas do convívio do paciente também é muito importante, desde que possam ser positivas e não se fixar apenas na doença, mas que sejam a confirmação das coisas que fazem parte da vida do paciente
» é saudável buscar atividades que fazem parte da vida do paciente e que sejam possíveis de ser realizadas no hospital. Ler um jornal, ouvir rádio, fazer palavras cruzadas, desenvolver atividades manuais... tudo isso ameniza a rotina hospitalar
» sempre que possível, não excluir o paciente de decisões importantes que afetam ou afetará sua vida fora do hospital, desde que não sejam situações que possam causar mais transtornos emocionais
» os familiares devem permitir que o paciente expresse suas dificuldades, seus medos, angústias, enfim todos os sentimentos que possam surgir.
O desabafo entre as pessoas da família fortalece o vínculo e ameniza o sofrimento |
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» O papel da familia na recuperação do paciente
Psicóloga responsável: Jenima Prestes Antunes Vilches
Estagiários: Cláudia Furiatti Fermiano / Vânia Portezan
A família é essencial na constituição do desenvolvimento humano e também a principal fonte de equilíbrio mental. Famílias começam quando duas pessoas que se gostam concordam em dividir suas vidas, futuros, expectativas e decepções. A família é unida por múltiplos laços, capazes de manter os membros com seus valores e costumes, materialmente e com a troca de conhecimentos durante uma vida e durante as gerações.
A vida numa sociedade altamente competitiva, desumana e despersonalizadora, gera altos níveis de estresse e ansiedade nas pessoas.
Por isso, o ser humano precisa de um espaço onde possa relaxar, encontrar paz e refazer-se para a luta diária. A família precisa ser este refúgio, este posto para recuperação das energias, da motivação e da alegria.
Nascemos numa família, vivemos em família, temos uma família. Mesmo que alguém não esteja convivendo diretamente com sua família, não se pode negar que ela exista esteja onde estiver.
A família do paciente e sua função na hospitalização
Quando uma pessoa adoece e sai do convívio familiar é comum a família se desestabilizar, surgir crises e desajustes na sua estrutura. Com o membro de uma família hospitalizado há uma ruptura de planos e mudança na rotina familiar. Os horários das refeições e dos estudos, o trabalho e o lazer, por exemplo, são mudados. Enfim uma mudança radical, e muitas vezes brusca na vida de todos os membros.
Alguns sentimentos e questões podem surgir entres os membros da família. Entre eles estão a insegurança, medo, culpa, dúvidas em relação à doença, a conduta dos profissionais e rotinas do hospital. Com isso é comum surgirem fantasias em relação à doença e toda a hospitalização.
O paciente também vivencia muitas angústias e mudanças. Diante disso a família tem a importante função de dar apoio e suporte, manter o vínculo do paciente com sua realidade externa ao hospital, intermediar as relações com a equipe do hospital e conter os momentos de angústia.
Mas como a família pode conter essas situações?
» É importante que a família se organize nas tarefas de cuidado e acompanhamento ao paciente. Seguem algumas orientações:
» para cada função, a família deve eleger a pessoa mais preparada emocional e fisicamente. Assim, ninguém terá que romper completamente com sua rotina e nem se sobrecarregar emocionalmente
» é fundamental que os esclarecimentos das dúvidas sobre a doença, o tratamento e os procedimentos sejam feitos somente com a equipe médica e de enfermagem. Ter informações dos profissionais corretos evita fantasias erradas e prejudiciais em relação ao procedimento adotado
» a família precisa ter consciência e confiança na importância e no objetivo do tratamento e do trabalho da equipe. Só assim poderá ajudar o paciente na sua recuperação
» é muito importante que a família expresse seus sentimentos, buscando se organizar emocionalmente e amenizar o sofrimento que surge na hospitalização. Só assim será possível dar suporte e apoio ao paciente em sua dor e angústia |
Muitas vezes é difícil o familiar se organizar emocionalmente sem um auxílio profissional. Para isso os hospitais do complexo Santa Casa de Londrina oferecem o Serviço de Psicologia que acolhe esses sentimentos e auxilia na reorganização emocional de pacientes e familiares.
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